Sobre o Capitalismo.
As práticas do capitalismo reciclado pelo neoliberalismo não se sustentam apenas pela coação. Elas precisam de legitimidade social, intelectual e moral. A filosofia pós-moderna e o ideário neoliberal atendem a esse requisito, não como mero reflexo das condições materiais ou de sua justificativa, mas como contribuição para a restauração/instauração de um conjunto de valores associados ao desejado de uma ordem social específica.
O pensamento conformista também manifesta-se na valorização do individualismo e do hedonismo cotidiano, que encontra no consumo a razão de viver. As tentativas de apropriação coletiva e criativa das condições de existência, de trabalho, de espaço e de tempo são ridicularizadas em favor de comportamentos individuais, que abdicam atuar na esfera pública, legitimam-se o isolamento, o enfurnamento na vida doméstica, nas micro esferas, agora não mais referenciadas num poder a ser contestado. Desde o início do Capitalismo “o sentimento deliberado do cidadão de se isolar da massa dos seus semelhantes, foi exaltado como a essência desejável da liberdade” (Tocqueville, 1985). O pensamento pós-moderno amplia esse princípio, legitimando a atitude do indivíduo de se encerrar na única realidade que existe para ele: a do seu próprio interesse. O desengajamento político e o abandono da causa pública, contrapartidas naturais desse comportamento, preparam o terreno para o despotismo.
Com a globalização, o mundo estaria cada vez mais integrado, e isso corresponderia a um processo racional e harmônico. No final dos anos 60, alguns teóricos tentaram reciclar as teorias do imperialismo, indicando a possibilidade de crescimento parcial nos países subdesenvolvidos, ou seja, considerando que a dominação das grandes potências não seria totalmente inibidora do desenvolvimento e que caberia às elites agenciar parcerias subordinadas, porem, rentáveis. Foi o que ocorreu na maioria dos paises subdesenvolvidos. O resultado foi um mundo intolerável, revelando os malefícios da expansão produtivista, o caráter nefasto da dominação do capital financeiro sobre as populações mais pobres. Isso é um testemunho irrefutável do crescimento da miséria humana, da imoralidade do mundo dos negócios, e da irracionalidade crescente do capital volátil.
Nos paises desenvolvidos, o ressurgimento da pobreza surpreende e desconcerta pela rapidez e pela ampliação. Por toda a parte, observa-se a explosão da violência urbana, o aumento das gangues juvenis, das máfias especializadas e das milícias que atentam contra a vida em sociedade. Constata-se o retorno do misticismo e dos fundamentalistas políticos e religiosos , e guetos problemáticos, antes geograficamente contidos, expandiram-se, forçando as elites econômicas a se barricarem em sofisticados “bunkers”, em condomínios fechados ou zonas protegidas.
Mesmo em seus melhores momentos, os países do capitalismo avançado nunca conseguiram chegar a compor uma sociedade social e economicamente integrada e homogênea, embora a expectativa fosse, um dia, concretizar essa situação ideal. .
Nenhum comentário:
Postar um comentário